O debate entre os candidatos, Jerónimo de Sousa e Mário Soares, foi um pouco mais interessante que o anterior, protagonizado por Manuel Alegre e Cavaco Silva, isto porque foi possível começar a vislumbrar possíveis cenários a acontecer, não só durante a pré-campanha e campanha eleitoral como numa eventual segunda volta.
Foi um debate ponderado devido a uma grande proximidade no objectivo traçado por ambos os candidatos: derrotar Cavaco Silva. Devido a este facto, a troca de ideias correu dentro da normalidade esperada, apenas oscilando em matérias do ponto de vista ideológico partidário e não do pessoal inerente à candidatura.
Fica patente que existe uma simpatia entre candidatos – se deriva de necessidade é uma história que se vai constatar mais adiante no tempo - uma vez que os dois candidatos optaram, quase sempre, pela concordância de ideias e não pela diferença que as separa, facto esse visível na orientação do discurso de Jerónimo de Sousa em comparação com o que tem sido proferido pelo próprio em plena pré-campanha eleitoral.
Por sua vez, Mário Soares soube aproveitar esta nuance no ponto, talvez mais importante do debate, quando Jerónimo de Sousa revelava que o seu partido tinha apoiado este na conquista do seu primeiro mandato e não no segundo, proferindo entretanto que no primeiro Mário Soares não tinha utilizado todos os poderes que estavam ao seu alcance, enquanto presidente, para fazer valer a sua autoridade, mas já no segundo, tal tinha acontecido, indicando que a prestação do seu adversário de agora tinha sido mais positiva.
Com este comentário, Soares “agradece” e interrompe – uma das poucas vezes em todo o debate – dizendo algo assim “é esta a prova de como sou independente, sem o voto do eleitorado comunista, obtenho uma apreciação positiva do meu trabalho enquanto presidente, e prometo seguir essa linha caso seja eleito”. Aqui, Mário Soares, como que “pisca o olho” ao eleitorado comunista, fazendo uso, inteligentemente, das palavras do seu adversário.
Uma das ideias que podemos retirar deste debate, é a de que caso exista uma segunda volta entre Mário Soares e Cavaco Silva, talvez venham a ser recordadas, pelo eleitorado comunista e não só, as palavras de Álvaro Cunhal, quando este se viu obrigado a apelar ao voto no candidato socialista.
De notar que após o debate, quando inquirido pelos jornalistas, Mário Soares não se mostrou muito agradado com o modelo de debate existente, relembrando o célebre debate com Álvaro Cunhal como modelo ideal à troca de ideias e esclarecimento, e dizendo que as regras agora criadas apenas visam beneficiar o candidato que não quer debater – alusão a Cavaco Silva – e respondendo de forma inconclusiva à pergunta se iria respeitar as regras do debate quando for altura de “enfrentar” Cavaco Silva, o que nos deixa com inevitável ansiedade em relação a este (re)encontro.
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