segunda-feira, dezembro 12, 2005

Triste Fado

Aquilo que é, sempre, evitável aconteceu numa acção de rua em Barcelos, local escolhido neste dia – ontem – para o candidato Mário Soares chegar junto da população local e fazer passar a sua mensagem enquanto candidato ao cargo de Presidente da República.

A tentativa de agressão partiu de um homem que aparentava cerca de 50 anos e que usava uma boina verde com símbolos militares, o que leva a pensar tratar-se de um ex-combatente. Este homem começou por insultar o candidato, Mário Soares, insinuando tratar-se este de “um vigarista” e ainda dizendo “vai assaltar o Banco de Portugal para dar dinheiro aos turras para matarem portugueses", acusando assim o candidato, de apoio aos antigos movimentos independentistas africanos.

Note-se que este homem traz consigo o jornal “O Crime” debaixo do braço, onde se pode ler um artigo relativo ao assalto feito em 1967 pela Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR) à dependência da Figueira da Foz do Banco de Portugal.

Considero este acto isolado como, infelizmente, um levantar de véu da verdadeira identidade de muitos portugueses, que têm como referência publicações iguais ou na mesma linha da que o “agressor” transportava.

Considero que Mário Soares, ao não apresentar queixa deste homem, resguardando-se num lacónico comentário alusivo à possível incapacidade mental deste indivíduo, esqueceu-se que “anda na rua” em busca de votos, venham eles de que classe vierem, venham eles de que pessoa vierem, e que muito provavelmente, o voto daquele atrasado mental – palavras do candidato – lhe daria muito jeito.

Esta é uma situação complicada não só para Mário Soares como para todos os outros candidatos, que neste momento são, também, possíveis “alvos” de mentalidades distorcidas pela imprensa que temos, pela televisão, pela ausência de referências no país, e não, pela possibilidade remota de alguém com verdadeiros traços de doença mental, praticar tais actos.

É importante neste momento estar atento, não só ao acontecimento e à verdadeira notícia, como também ao que move este tipo de actos e, ao que está na génese de todo este tipo de comportamento, para melhor compreensão do fenómeno da cada vez maior falta de referências por parte da população em geral.


Penso que se houver alguma reflexão sobre aquilo em que a maioria da população "hoje" se revê, vamos ter indicadores muito significativos sobre o verdadeiro adormecimento social em que estamos mergulhados. Não querendo isto, nunca, desculpar os actos que são praticados da forma que vemos, mas sim para uma melhor compreensão do que os leva a acontecer, evitando assim a “rotulagem” social.