Acabo agora de ver, e com grande satisfação, o mea culpa da SIC na voz de João Adelino Faria, sobre a sobreposição de discursos na passada noite de domingo.
João Adelino Faria assumiu, de forma clara, ter sido um erro retirarem do “ar” Manuel Alegre em detrimento de José Sócrates.
É importante assumir o erro que tem origem nos requintes de malvadez de Sócrates, apesar de este continuar a insistir que não sabia que Manuel Alegre tinha acabado de iniciar o seu discurso. Este facto é bastante plausível, uma vez que Alegre não está na vice-presidência da Assembleia da República, não é militante do PS, e nem é, tão pouco, o segundo candidato mais votado nas últimas eleições, à frente do candidato escolhido pelo seu partido. Por estas e outras razões acreditamos que no Largo do Rato ninguém estava a ver o que se passava nas três estações que transmitiam o discurso.
Este assunto remete, inevitavelmente, para o agendamento feito pelos media na campanha eleitoral, pois este foi e serve de exemplo, a um paradigma que esperamos que não venha a vingar entre os profissionais da área, que é o de o agendamento realizado pelos candidatos e suas “máquinas partidárias” se sobrepor ao agendamento editorial de uma redacção.
Foram vários os acontecimentos deste tipo, desde a sobreposição de discursos à forma imperativa como o modelo de debates televisivos foi construído, passando ainda pela imprensa, que teve como ponto de referência a fotografia de Mário Soares, na primeira página do Expresso, que curiosamente nessa semana tinha como novo director Henrique Monteiro. No Clube de Jornalistas foi possível ver e ouvir o autor da fotografia, António Pedro Ferreira, dizer que aquela imagem não reflecte de modo algum o verdadeiro estado de espírito de Mário Soares à altura do “boneco”, e que o próprio se sentiu desconfortável e admirado com a publicação desta na página nobre do semanário.
São estes os principais momentos que se debateram no, como sempre, excelente Clube de Jornalistas e que trazem à reflexão o tema do agendamento e suas perversões. É bom estarmos atentos a todas estas movimentações, pois como sabemos, estas derivam em sua maioria no facto de os órgãos de comunicação social estarem cada vez mais concentrados nas mãos de grandes grupos empresariais, que limitam em muito a tão desejada autonomia jornalística.
Com este cenário sinto-me tentado a pensar, e escrevo-o, que o Gatekeeping é um conceito “bipolar” quando tentamos identificar a sua presença nas nossas campanhas eleitorais.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home