segunda-feira, janeiro 23, 2006

A Predição Cavaquista

E assim se cumpriu, na noite de 22 de Janeiro de 2006, a predição cavaquista.

Dez anos depois de ter perdido para Jorge Sampaio as presidenciais, Aníbal Cavaco Silva é eleito à primeira por maioria absoluta com 50.59% dos votos.

Os factos de interesse nesta eleição começam logo pelo candidato vencedor e pelo segundo lugar atribuído a Manuel Alegre, pois ambos sempre se intitularam como sendo, no caso de Cavaco suprapartidário, em relação a Alegre, um movimento de cidadania isento de qualquer ligação partidária. Em traços gerais, os políticos foram destronados pelos “não-políticos”.

Este panorama atira irremediavelmente Mário Soares, o candidato do PS para uma derrota desnecessária, não só a nível pessoal como para uma derrota partidária, com possível fractura política interina no PS.

Por muito que a concertação a nível do discurso de Sócrates seja bastante semelhante à de Cavaco Silva, este apoiado em lugares comuns como estabilidade, rigor e esperança para Portugal, não demonstra o real sentimento de insatisfação no seio do PS.

Este facto é, claramente, visível no discurso de Sócrates, iniciado poucos segundos depois do de Manuel Alegre. Estratégias possíveis no mundo mediático em que vivemos. Segundo sei, Sócrates sabia precisamente que Alegre estava no “ar” e esse facto depressa o motivou a iniciar o seu discurso, apesar, repito, dos avisos sobre Alegre estar no “ar” serem por si ignorados.

Sócrates espera agora que Alegre volte a ocupar, pacificamente, o lugar que lhe pertence na assembleia, espera que Cavaco cumpra a sua promessa de estarmos sem eleições nos próximos três anos, e espera ainda que o próximo congresso do PS, sirva não para debater o que aconteceu na presidenciais mas sim potenciar e dar mostras ao país, mas sobretudo à oposição, que o partido não se dividiu após este conturbado período eleitoral.

Quanto a Cavaco Silva, foi igual ao que nos habituou nesta campanha, não fugindo um milímetro ao discurso por si empregue durante a mesma. Regista-se a frase “Neste exacto momento dissolve-se a maioria que me elegeu. Quero ser e serei o Presidente de todos os portugueses”.

Em relação à luta travada por Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, o candidato apoiado pelo PC, levou a melhor. Comparativamente às últimas eleições, não só manteve o eleitorado, de resto tradicional, como subiu um ponto percentual em relação ao último escrutínio, ponto esse que pode – especulativamente - ter sido a causa de o candidato Francisco Louçã ter tido um resultado decepcionante, perde um ponto percentual em relação ao último resultado confirmado.

No fim, fica Garcia Pereira, pouco se pode dizer em relação a este candidato, saliente-se o facto irrevogável de não ter tido direito a aparecer no espaço mediático de forma equitativa, a agenda dos media não reservou espaço para este candidato, ou melhor, nunca o interpretou como tal.


Quanto à diferença partidária entre PM e PR, uma coisa é certa, se Sócrates for bom primeiro-ministro, Cavaco Silva será bom presidente. Agora quanto à possibilidade contrária, ao primeiro deslize, a força de Cavaco vai seguramente fazer-se sentir. Mas por agora, como estes representam neste momento o centro, as coisas têm tudo para correr bem.


Como nota final, desta curta reflexão sobre as presidenciais, deixo a minha convicção de que neste momento entrámos num clima de “paz armada”, onde as movimentações a nível partidário vão ser uma constante, a começar brevemente com o congresso do PS e, inevitavelmente, pelos partidos PSD e PP, que a breve trecho serão “contaminados” pela sinergia cavaquista, que se vai apoderar principalmente do PSD. Acredito que os líderes deste dois partidos, a curto prazo, venham a ser substituídos, mas isso só o futuro nos revelará.