segunda-feira, maio 01, 2006

Viva a tradição! Abaixo a tradição!


A tradição da largada de touros em Portugal é já um clássico por muitos amado e por outros nem tanto. Respeito tal acto no sentido da folclorização do mesmo, são "festas" há muito enraizadas e que continuam a desfilar no tempo, independentemente das vozes críticas, das associações de defesa dos animas ou de uma qualquer ameaça de impedimento que vise alterações ao formato original, em alguns casos, da barbárie.

Ontem, em Samora Correia, a tradição foi alvo de uma parceria com o Guinness Book, em uma tentativa de juntar ao famoso livro mais um dos nossos brilhantes recordes. Desta feita era necessário que a largada tivesse 25 horas de duração e que nesse período de tempo estivesse sempre um touro na rua.

Ora se tal fosse conseguido (desconheço o resultado) seria bonito juntar a este feito outros maiores, tais como: maior pão com chouriço do mundo, maior bolo-rei do mundo, maior feijoada do mundo e ao maior número de aberrações do mundo de que tanto nós nos orgulhamos.

Avancemos estão para a parte trágica da aberração em que uma vida é ceifada pelo muito gozado animal, e em que a estação televisiva SIC, ao cobrir o pós acidente, nos dá a conhecer a opinião daqueles que ajudam e apoiam a aberração.

Ora aqui vai, em primeiro lugar a festa continuou mesmo depois de o homem que foi colhido pelo touro ter falecido. Excelente exemplo de solidariedade para com a família de tão nobre aventureiro, afinal de contas o senhor em questão apenas deixa três filhos menores e esposa por causa de uma mui nobre tradição, absolutamente extraordinário.

Em segundo lugar temos uma pérola da verborreia mental portuguesa que anda de mãos dadas com este tipo de barbáries, aqui vai: uma senhora, já de alguma idade, responde a pergunta da jornalista da SIC - que a interpelava quanto aquilo que pensava sobre o incidente ocorrido pouco tempo antes e que ditou em primeira instância a não sobrevivência do homem envolvido e em segunda uma família que se vê, talvez, sem a única fonte de rendimento familiar - da seguinte forma: por morrer uma andorinha, não acaba a Primavera.

Depois de ouvir estas agoniantes palavras e reparar que a vida reinante naqueles e em outros olhos, que presenciaram tal violento final de vida, não vai além deles próprios, apenas me resta um comentário: Abaixo a tradição! Abaixo formas de expressão cultural que se sobrepõem à vida e à própria condição humana.