Crianças Invisíveis

Das mãos de Medhi Charef, Emir Custurica, Spike Lee, Katia Lund, Jordan e Ridley Scott, Stefano Veneruso e John Woo já vimos muito mais, mas seria injusto, e desajustado, comparar a sua obra com esta pequena mostra das suas capacidades. Não é objectivo desta crónica apreciar a obra cinematográfica, mas sim juntar estas linhas a uma causa maior, aquela que levou à realização deste trabalho e que deve ser entendida por todos como "nossa causa".
Falo, impreterivelmente, das crianças de todo o mundo, que no título "Crianças Invisíveis" que serve de guarda-chuva aos nomes de cada curta, nos ajudam a perceber a invisibilidade destas e de todas, as muitas, crianças no mundo.
As formas como as crianças são filmadas transportam-nos, a cada mudança de realizador, para um lugar-comum: o do desconforto. E que melhor palavra para sinónimo desta, em jeito de metáfora, que invisível. Invisível porque toda a realidade por nós observada diariamente e a qual é também por nós esquecida, mesmo quando se trata da nossa infância, é-nos revelada através de vários "punchs" que nos acertam não só no estômago como, também, deixam a sua marca indelével na consciência de cada um.
O visionamento deste filme permite ao espectador confrontar-se com o que esqueceu de si e aquilo que não quer ver, ignorando-o, à sua volta. Permite tomar contacto com aquilo que são, que fomos, as gentes "pequeninas" que não chegam a crescer, estando toda a sua resistência e vivência resumidas, metaforicamente, a alguns metros de celulóide.
Neste 116 minutos de alterações profundas no eu de cada um, dá-se atenção ao que de tão nuclear importância tem no contexto das sociedades modernas: a família. A forma como esta é retratada indica-nos um caminho longo que existe a percorrer, não só por aqueles que são de alguma forma retratados no filme, como, também, naqueles que o visionam.
Este é assim, na minha opinião, um filme obrigatório. Não só por aquilo que somos e fomos, mas principalmente pela forma como podemos voltar a olhar para situações parecidas com aquelas às quais fomos expostos e mesmo quando somos confrontados por estas no nosso quotidiano.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home