quarta-feira, junho 28, 2006

Uma calçada cheia de buracos

O presidente da Câmara de Viseu e da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP), Fernando Ruas, declarou que não tema qualquer tipo de acusação proveniente do ministério público, devido a declarações por si proferidas, nas quais sugeria "Arranjem lá um grupo e corram-nos à pedrada", referindo-se aos fiscais do ministério do ambiente.

Pois aqui nota-se o seguinte: de facto, um autarca com nome de Ruas, seguramente não podia exigir o arremesso de outra "arma" a não serem as famosas pedras de calçada; pedras que tanta falta fazem em muitos passeios esburacadas por esse país fora, invisíveis aos olhos dos autarcas.

Nota-se também o sentido de humor, um clássico imortalizado por qualquer autarca, no sentido de reflectir sobre as suas declarações, achando-as inofensivas e não contendo nenhum conteúdo bélico - palavras do próprio - e, ainda, dando a informação adicional de sabedoria suprema, informando todos os presentes na conferência de imprensa que sabia de métodos mais eficazes que o simples arremesso de pedras...

Penso que este seja um fiel retrato da realidade das autarquias portuguesas, este com especial relevo devido ao facto de o senhor Ruas ser, além de presidente da Camâra de Viseu, presidente da ANMP.

Sem dúvida, e olhando para aquilo que é tido como comportamento normal nas autarquias, podemos ter indicadores da forma como todos os seus constituintes legitimam as suas declarações e actuações pelo não entendimento dos outros, julgando-se assim ímpares e reclamando um estatuto superior, atribuindo de seguida aos seus semelhantes as honras da ignorância.

Dobrada ignorância, quando um homem ignora que é ignorante.
Platão