quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Envelope 9



Os resultados da investigação iniciada pelo Ministério Público a pedido de Jorge Sampaio sobre o caso das monitorias telefónicas realizadas no âmbito do processo Casa Pia, conheceu hoje os primeiros resultados.

E sem grande surpresa para muitos, o director do jornal 24 Horas, o jornalista "free-lance" autor da peça e ainda o co-autor da mesma foram constituídos arguidos neste processo.

Como ainda estamos no início deste caso o que há a dizer sobre o mesmo é o seguinte: já seria de esperar que os primeiros a "pagar" e a serem julgados em praça pública são os jornalistas que revelaram esta peça.

O que esta em causa neste caso é a forma de como toda a situação aconteceu, com buscas à redacção do jornal, apreensão de equipamento informático pessoal do jornalista, em suma, um verdadeiro atentado à liberdade de imprensa.

É também de notar a forma como uma publicação conotada com fait-divers, que publica a peça em questão, está na origem de uma busca à sua redacção, que no mínimo faz lembrar outros regimes que já fizeram valer o seu valor imperativo em Portugal. Não quer isto dizer que este tipo de publicações não tenham ou não mereçam credibilidade, mas a maior parte da peças que publicam não são levadas em conta, mas desta vez, mexeram com aquilo que não deviam e agora acabam por recolher os primeiros frutos das sementes que plantaram.

Espero que este caso seja levado até ao fim e não se fique com a simples acusação aos jornalistas, pois todos sabemos que estes se limitaram a trazer a lume uma questão que importa a todos, que coloca em perigo a liberdade que cada um de nós e da imprensa e que da forma que estamos todos a ver, se está a transformar numa espécie de censura encomendada que por vezes teima em aparecer.

É preciso dar atenção a todas estas questões, principalmente o sindicado dos jornalistas, que deve desde já fazer as diligências necessárias para aferir em que moldes acontece a acusação que se verifica. É preciso estar atento a jovem democracia que temos que, pelos vistos, continua a ter hábitos pouco recomendáveis e que prejudicam em muito as instituições que são, de alguma forma, as guardiãs dessa mesma identidade, a democrática.