sexta-feira, dezembro 30, 2005

A "queda" de Sócrates

Serve o título deste post para dar ênfase ao pequeno acidente sofrido por José Sócrates, enquanto esquiava, na Suíça.

É chegada a altura de reflectir sobre o comportamento que José Sócrates tem mantido, primeiro, em relação ao mandato que cumpre e, segundo, em relação às presidenciais que se aproximam.

Neste sentido corroboro com as palavras de Mário Bettencourt Resendes, que podem ser lidas aqui.

O primeiro-ministro tem-se destacado pela serenidade na forma como aborda qualquer tema em que é chamado a intervir, e essas actuações têm sido vistas não só pela população como também pelos media de forma bastante agradável. Isto resulta numa "boa imprensa" por parte dos meios de comunicação social e feedback positivo por parte da maioria do eleitorado.

Não podemos deixar de relacionar estes factos com a política praticada pelo actual governo, que mesmo adoptando medidas "impopulares", de efeito social previsível e verificável nos protestos vindos, por vezes, de classes que gozam de um desajustado número de regalias, não sejam mesmo assim indicadores de mudança e até de algum sentido, diria mesmo, pedagógico de actuação governamental. A "crise" anda uma vez mais na boca de toda a gente e a grande maioria interpreta já o ano de 2006 como um período de dificuldades acrescidas.

Parece-me positiva a abordagem que José Sócrates tem feito à realidade do país, bastante pragmática, o que lhe confere uma substancial credibilidade e lhe faz aumentar a confiança, de outro modo visível, por exemplo, na forma como apresentou na Assembleia da República os resultados do acordo de Bruxelas.


Em relação às presidenciais, Sócrates tem mantido um próximo e cauteloso acompanhamento das mesmas, evitando dar resposta as mensagens enviadas por Cavaco Silva que aludem a uma concertação entre este e o governo, caso vença as eleições. Em simultâneo, não descura a necessidade primeira de Mário Soares obter um bom resultado, pois é possível imaginar quais serão as repercussões a nível interno do partido se Manuel Alegre superar Soares nas urnas.

É assim interessante pensar como Sócrates vai lidar com o futuro episódio, que tão grande importância tem para o país e para a vida política dos envolvidos. Para já deseja-se a rápida recuperação da queda que sofreu.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Casca de banana constitucional

A casca de banana constitucional, ali estava, prostrada a quem de perto se chegar.

E eis que Cavaco Silva, aquele que a grande maioria diz ser o vencedor antecipado das eleições, aquele que nos media é apontado como o mais comedido e bem preparado candidato, alvo de enormes elogios devido à sua preparação para este momento, tropeça, não chega a cair, mas mostra algo que Soares tinha denunciado no "frente-a-frente" televisivo - apesar de criticado por isso -, a possibilidade de criar "conflitos políticos graves".


É certo que a vontade de Cavaco Silva querer ser Presidente e ajudar o país é legitima e muito apreciável por todos, ou quase.

Agora que o "bem preparado" candidato opine sobre um tema que pertence à tutela governamental e foge às reais competências do cargo a que se candidata é um facto indesmentível, apesar de este o já ter feito na sequência das suas declarações.

Este é um exemplo com o qual todos nós nos devemos preocupar e estar atentos, pois uma coisa é proferir tais sugestões em pré-campanha eleitoral, a outra, bem diferente, é olhar para tais comentários num cenário de pleno exercício da função de Presidente, o que terá repercussões bem diferentes de estas que agoram se verificam.

Fica o registo do, se quisermos, primeiro deslize de Cavaco Silva, que em época festiva tão apreciado foi pelos candidatos de esquerda e por alguns media, digo alguns pela coerência com o que escrevi no início do texto.

Vamos aguardar pelo que vem a seguir, pois parece-me bem interessante e volátil aquilo que muitos dão como um dado adquirido.

Colocações de Professores

O Ministério da Educação (ME) propôs hoje aos sindicatos do sector a redução do período das colocações dos professores de quatro para três anos, tendo em conta a fase de transição das regras.

Parece-me ser uma excelente ideia a de por fim aos concursos anuais pois só assim vamos acabar com o "sofrimento" dos que estão sujeitos a estas regras e que anualmente andam, muitas vezes, com a bagagem às costas.

É um facto que o concurso anual provoca não só grande instabilidade nos professores como também nos próprios alunos, uma vez que a continuidade e identificação de referências a nível de ensino se perde bastante com o modelo que vigora.

A colocação dos docentes em períodos de três anos funciona assim como uma salvaguarda para estes, não esquecendo nunca que existirão reclamações por aqueles que forem colocados bastante longe de casa, mas para esses, pelo menos, existe sempre a possibilidade de poderem planificar a sua vida nesse período e evitar o desespero de mudanças anuais de montante a jusante.

Esperemos que as mudanças sejam do agrado de todos pois os grandes beneficiados são os professores, que com maior auto-estima podem assim melhorar o seu desempenho e credibilizar a sua profissão junto da restante sociedade.

É importante referir que com estabilidade no ensino os alunos são também beneficiados através da maior disponibilidade dos docentes e, de certo, do maior empenho destes.

Todas as mudanças que dão lugar a uma nova esperança à educação são bem-vindas, desde que provoquem alterações "palpáveis" junto dos seus intervenientes, quer sejam eles alunos ou professores.