sexta-feira, dezembro 09, 2005

Debate, Jerónimo de Sousa - Mário Soares

O debate entre os candidatos, Jerónimo de Sousa e Mário Soares, foi um pouco mais interessante que o anterior, protagonizado por Manuel Alegre e Cavaco Silva, isto porque foi possível começar a vislumbrar possíveis cenários a acontecer, não só durante a pré-campanha e campanha eleitoral como numa eventual segunda volta.

Foi um debate ponderado devido a uma grande proximidade no objectivo traçado por ambos os candidatos: derrotar Cavaco Silva. Devido a este facto, a troca de ideias correu dentro da normalidade esperada, apenas oscilando em matérias do ponto de vista ideológico partidário e não do pessoal inerente à candidatura.

Fica patente que existe uma simpatia entre candidatos – se deriva de necessidade é uma história que se vai constatar mais adiante no tempo - uma vez que os dois candidatos optaram, quase sempre, pela concordância de ideias e não pela diferença que as separa, facto esse visível na orientação do discurso de Jerónimo de Sousa em comparação com o que tem sido proferido pelo próprio em plena pré-campanha eleitoral.

Por sua vez, Mário Soares soube aproveitar esta nuance no ponto, talvez mais importante do debate, quando Jerónimo de Sousa revelava que o seu partido tinha apoiado este na conquista do seu primeiro mandato e não no segundo, proferindo entretanto que no primeiro Mário Soares não tinha utilizado todos os poderes que estavam ao seu alcance, enquanto presidente, para fazer valer a sua autoridade, mas já no segundo, tal tinha acontecido, indicando que a prestação do seu adversário de agora tinha sido mais positiva.

Com este comentário, Soares “agradece” e interrompe – uma das poucas vezes em todo o debate – dizendo algo assim “é esta a prova de como sou independente, sem o voto do eleitorado comunista, obtenho uma apreciação positiva do meu trabalho enquanto presidente, e prometo seguir essa linha caso seja eleito”. Aqui, Mário Soares, como que “pisca o olho” ao eleitorado comunista, fazendo uso, inteligentemente, das palavras do seu adversário.

Uma das ideias que podemos retirar deste debate, é a de que caso exista uma segunda volta entre Mário Soares e Cavaco Silva, talvez venham a ser recordadas, pelo eleitorado comunista e não só, as palavras de Álvaro Cunhal, quando este se viu obrigado a apelar ao voto no candidato socialista.

De notar que após o debate, quando inquirido pelos jornalistas, Mário Soares não se mostrou muito agradado com o modelo de debate existente, relembrando o célebre debate com Álvaro Cunhal como modelo ideal à troca de ideias e esclarecimento, e dizendo que as regras agora criadas apenas visam beneficiar o candidato que não quer debater – alusão a Cavaco Silva – e respondendo de forma inconclusiva à pergunta se iria respeitar as regras do debate quando for altura de “enfrentar” Cavaco Silva, o que nos deixa com inevitável ansiedade em relação a este (re)encontro.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Debate, Manuel Alegre - Cavaco Silva

Deu-se, ontem, início a uma série de debates televisivos com o intuito de clarificar as dúvidas, ainda existentes no eleitorado português, com vista às presidenciais de 22 de Janeiro de 2006.

Manuel Alegre e Cavaco Silva proporcionaram um debate onde passeou a moderação, e onde facilmente se encontram "intimidades" opinativas nos temas : Ota, forças armadas, desemprego e qualificação dos portugueses.

Um dos primeiros reparos a como o debate foi "sentido" pelos portugueses, parte de Manuel Alegre, elogiando a forma de como o debate foi conduzido, e também o comportamento entre os intervenientes, sempre bastante cordial.

Também Cavaco Silva elogiou a forma como o debate aconteceu, bem ao seu jeito nesta campanha, low profile.

Tem razão Manuel Alegre quanto à cordialidade, outra coisa não seria de esperar, relativamente às divergências a nível político, esclarecem em muito pouco aquilo que se pretende ver esclarecido, excepção feita ao apoio partidário, tema que provocou alguma, pouca, tensão. O modo como a SIC preparou esta série de debates, tem como novidade os candidatos não se poderem interromper mutuamente, podendo apenas ter direito a uma "réplica" quando sintam necessidade de o fazer.

Este facto, remete para o famoso debate na SIC Notícias, no âmbito das últimas eleições autárquicas, onde Manuel Carrilho e Carmona Rodrigues nos deram um lamentável espectáculo político. A SIC querendo fugir a esta possibilidade, lança então este novo modelo, onde se promove a troca de ideias e o respeito mútuo entre os candidatos, situação normal e justificada.

Quanto ao esclarecimento do eleitorado, penso que o modelo a seguir deve ser o de "nem tanto ao mar nem tanto à terra", sob pena de quem viu este primeiro debate, depressa se desinteressar dos restantes, excepção feita, talvez, ao de Mário Soares e Cavaco Silva.

Vamos aguardar pelos próximos, e esperar que continuem cordiais, é certo, mas um pouco mais esclarecedores quanto às posições que distinguem os candidatos.


De ressalvar que o debate foi o terceiro programa com maior número de audiência, atrás das novelas transmitidas pela estação de Queluz.