sábado, junho 24, 2006

Fateless - Sem destino


Fateless - Sem destino, é o título do filme realizado por Lajos Koltai, baseado na obra do Nobel Imre Kertesz e que nos trás uma visão de um acontecimento verídico sobre o Holocausto.

A história é centrada na personagem de um jovem húngaro de 14 anos, Gyuri Koves, que após se ter despedido do seu pai, por este ter sido chamado para a realização de trabalhos forçados, vê-se subitamente no seio de tantos outros semelhantes a caminho dos campos de terror nazis. A partir daqui dá-se então inicio à narrativa, que numa espécie de morte lenta se arrasta e nos conduz aquilo que a condição humana poderá ter de pior - a dúvida da sua própria continuidade.

Todo este silencioso cenário de quase não cor é proporcionado pela excelente fotografia, com destaque para os close-up, e pela profissional banda sonora, a cargo do conceituado Ennio Morricone. A dúvida que nos assalta é sempre a mesma em relação a filmes que retratem este acontecimento tão tristemente importante do sec xx - não será mais um?

Não o é de facto, isto porque aquilo que de mais cliché preenche as telas de cinema e as nossas imaginações, as cenas passadas nomeadamente dentro dos campos de concentração, desta feita são filmadas para que seja o espectador a conduzi-las, o que não sendo novidade, sempre transporta o espectador para outras dimensões da cena. Desta forma de filmar de "mão beijada" resta apenas analisar o seguinte facto: mesmo com a possibilidade dada ao espectador de poder ser ele o "castigador" ou o "benevolente" em certas ocasiões, não estará já este contaminado por todo um inesgotável baú de memórias que derivam directamente da brutalidade dos retratos já conhecidos? E não existirá uma necessidade dos realizadores fugirem a essas cenas brutais, talvez por excesso das mesmas, na tentativa de suavizar aquilo que nunca pode ser retratado de outra forma?

Fica a sugestão para a elegante verdade que nos trás este Fateless - Sem destino,

sexta-feira, junho 23, 2006

A lista negra


Foi hoje dado a saber, na voz do ministro das finanças, o "lançamento" na internet de uma lista de devedores ao fisco com valores superiores a 50 mil euros de IRS ou cem mil euros de IRC.

À boa maneira portuguesa, a da mercearia de bairro, vai assim ser afixada uma lista de devedores como forma de estes, ao verificarem o seu nome na mesma, se sentirem inferiorizados e possam assim liquidar os valores em causa.

Olhando para os valores aos quais é preciso ascender para que o nome venha em tão nobre documento, a mercearia de bairro passa a ser a de um condomínio de luxo, o que, a meu ver, não faz algum sentido, pois se existe levantamento de nomes - devedores - que o façam de forma imparcial e não esta que foi apresentada.

A rir e já ansiosos por esta medida e seu lançamento, estão neste momento as publicações tablóides, pois pelo teor do conteúdo a lista vai revelar algumas caixas e, porque não, primeiras páginas.

quinta-feira, junho 22, 2006

Para onde pende a justiça? Para o mesmo lado


Pelo que já é posível apurar no portal criado pelo Ministério da Justiça - tribunaisnet - as férias judicias, ao contrário do que foi dito pelo ministro António Costa, vão ser realizadas durante período identico aos antecedentes.

De facto, é visível que existem datas marcadas para a realização de audiências durante esse período, estas apenas se realizam, não por consequência do deliberado pelo ministro, mas sim para continuar julgamentos em curso (uma obrigatoriedade, a lei prevê que o tempo de paragem na produção da prova não pode ultrapassar os 30 dias).

Confirma-se assim, uma vez mais, que determinado tipo de classes sociais, nomeadamente as bens posicionadas a nível de capitais culturais e económicas, tem sempre maior "margem de manobra" comparativamente a outros estratos socias.

Mais, quando estamos presentes a uma deliberação do ministério que visa extinguir as férias judiciais, os magistrados tem, pelos vistos, a possibilidade de deliberar a não marcação de audiências para o período em questão, o que lhes confere uma grande autonomia em relação ao ministério que, supostamente, existe para manter o bom funcionamento na área afecta.

Olhamos assim, infelizmente e mais uma vez, para esta balança pouco equilibrada que no nosso país tende, quase sempre, a pender para o lado daqueles que mais regalias sociais tem direito.