sábado, fevereiro 11, 2006

Solidariedade


Apenas um gesto de solidariedade para com os cartoonistas do nosso país, caso de António e seu cartoon no Expresso de hoje, e de todos os outros que se limitam a um olhar diferente e perspicaz do mundo e sua actualidade.

Que continuem todos a fazerem-nos rir, corar, chatear, importunar ou até mesmo ofender, pois enquanto o fizerem é sinal que a palavra liberdade continua com o significado primeiro da sua criação, e que todos sobre a sua égide tem direito à sua opinião.

World Press Photo of the Year

É verdade, já são conhecidos os fotógrafos vencedores e suas respectivas imagens que concorreram ao World Press Photo of the Year , o prémio desta edição foi atribuído ao fotógrafo canadiano da Reuters, Finbarr O'Reilly. A imagem captada retrata a realidade no Níger, a fome.

Quando olho para o World Press Photo penso sempre em boas imagens, feitas na sua maioria em locais de pobreza extrema, graves conflitos sociais, isto obviamente relacionado com as imagens vencedoras, o que me deixa, quase sempre, quando olho para estas um sentimento algo desconfortável.

Outras categorias, como desporto, são dádivas de rara beleza que nos demonstram que tudo é motivo para um click, tudo é factual, tudo depende do olhar diferente de cada fotógrafo.

Uma palavra de apreço para estes jornalistas que durante muito anos não foram reconhecidos como tal, mas que na actualidade ganharam importância extrema sobretudo na imprensa.

Não é, de facto, fácil realizar imagens como esta vencedora. Fundir o homem com a câmara fotográfica, como uno, abstraindo-se este da crua e envolvente realidade com o intuito, não de vencer um prémio, mas sim de divulgar, denunciar e alertar as consciências do mundo, é um trabalho pelo qual nutro o maior respeito e ao qual dou a maior importância.

O impulso que tenho ao olhar a imagem vencedora é realmente o de dar mão, não só aqueles que mais necessitam - como é o caso da imagem - mas também entre nós e aqueles que podiam fazer, ou tentar, erradicar a fome do planeta.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Escola Secundária D. João de Castro


A Escola Secundaria D. João de Castro, em Lisboa , está em risco de não abrir no decorrer do próximo ano lectivo e, pelo que se sabe a esta altura, os alunos serão transferidos para a Secundária Fonseca Benevides, que para quem conhece carece de condições úteis para que o desenvolvimento dos seus alunos ali formados seja exemplar. Digo-o não em desprimor pela instituição, mas sim em termos de comparação com a Secundária D. João de Castro, espaço ímpar no que toca a localização, infra-estruturas e demais requisitos que sempre estiveram ao nível das mais altas exigências de qualquer aluno, professor ou demais participantes na sua história, que é de quase 80 anos.

Pegando na famosa frase do Professor José Hermano Saraiva, que no passado dia 27 Janeiro esteve na escola no intuito de assinalar os seus 40 anos de passagem por aquela casa, para dizer:
E foi aqui que um dia existiu um belo liceu, onde fui reitor, onde existiam condições infra-estruturais excepcionais, onde os alunos e professores se podiam deliciar com a fantástica vista para o rio, mas agora é um, também excepcional mas não ao serviço de todos, condomínio privado - aliás mais um na recente proliferação destes pelo Alto de Santo Amaro.

Este é mais um típico caso de destruição de património singular, de memória colectiva e, sobretudo, de um estabelecimento de ensino público com condições que fazem corar muitos privados. Este é mais um caso em que os interesses capitalistas - permitam-me o uso do termo - se sobrepõem ao interesse geral da população, dos alunos que frequentam o estabelecimento, de toda uma história que não se quer apagada.

Existem razões para nos preocuparmos com esta questão, pois a forma pouco claro como todas as movimentações e "negociatas", que passam em muito pela DREL estão a acontecer não auguram um final feliz para a escola

Sei que está prevista a deslocação de elementos da CML para a avaliação da situação, espero que essa não seja apenas protocolar, mas que resida na avaliação de todo este processo para que o mesmo sofra um retrocesso no sentido já tomado.

Espero ainda não ter que voltar a escrever aqui, em forma de óbito, sobre este tema.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Fundamental(ismo)

Todo o processo que desencadeou manifestações de puro vandalismo e irracionalidade por parte do povo muçulmano, resultante da publicação de 12 "cartoons" que, na opinião destes, visam ofender Maomé, sofre agora de um pedido de desculpas por parte do jornal dinamarquês Jyllands Posten que pede assim desculpas pelo facto de não saber que tais "cartoons" iriam resultar numa afronta a tal religião.

A juntar a este cenário, o comunicado do MNE, Freitas do Amaral, é, no mínimo, de uma falta de coragem assustadora e aparentemente antidemocrático. Mesmo que este se esconda atrás da palavra "licenciosidade", é de uma falta de sentido de estado enorme este comunicado.

As questões a debater sobre este tema não são, nem podem ser, apenas em matéria de liberdade de expressão, pois esta na civilização ocidental nem sequer deve ser alvo de discussão quanto a diferentes tipos de forma a aplicar na sua manifestação. A liberdade de expressão é livre e arbitrária e as sátiras daí resultantes não visam denegrir nem, objectivamente, ofender ninguém que seja retratado, caricaturado, ou referenciado.

Quem não entenda isto, ficou lá atrás, preso nas malhas do tempo, e hoje é alimentado por líderes religiosos que apregoam a manifestações que de religioso nada têm, mas sim de puro e hostil fundamentalismo.

A civilização ocidental ao repudiar este acto entre membros, por exemplo no espaço europeu, e ao efectuar um público pedido de desculpas por causa de uns famigerados "cartoons", dá assim um passo atrás em relação a sua identidade e mostra, também, receio de toda uma comunidade que tem hábitos terroristas como cartão-de-visita e que aproveitou esta questão para "inflamar" a tensão política que se vive na actualidade.

Pergunto-me que como pode ser possível que tais caricaturas, já com três meses de publicação, venham agora, não resultar em actos verdadeiramente terroristas pois de onde vêm e onde acontecem já não é surpresa para ninguém, mas sim num pedido de quase clemência para com os autores de célebres atentados à humanidade, que de tão célebres e propalados surge a questão se estes já terão sido esquecidos?

Fundamental é manter a identidade democrática da civilização ocidental e não deixar que uns "bonecos" subvertam anos de civilização em troca de fundamentalismos incivilizados e terroristas. De facto o tempo é diferente em várias partes do globo, em algumas, de certo, parou.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Gripe das Aves

Este é um tema que, de tratamento quase exclusivo teve de tudo, desde aberturas nos 3 jornais diários, até ao atingir de 26 minutos ininterruptos de transmissão sobre o caso. Qual primogénito da notícia teria tal tratamento.

Agora raramente é abordado, passou a bastardo.

E se se vier a verificar a tão temível pandemia, aí sim, vamos partir para o terreno e fazer directos, já com máscaras e à porta de aldeias, vilas ou cidades em quarentena.

O grave é que segundo o Público de hoje, o propalado H5N1 já chegou a África, concretamente à Nigéria. A aldeia de Jaji, no estado de Kaduma, no norte do país, vive com certeza momentos de pânico a esta altura, e se na Europa quando somos confrontados com esta realidade e não temos a certeza quanto ao real funcionamento de um plano de emergência, em África a situação é, deveras, preocupante.

No deve e haver de primogénitos e bastardos, África é o grande orfanato mundial. No caso de uma pandemia no já afectado continente, vamos assistir aquilo que a condição humana tem de pior. E vamos assistir sentados ao sofá, outros à mesa em família, no chamado horário nobre.

Recordo assim o oportuno filme, do realizador Fernando Meireles, O Fiel Jardineiro, que aborda a temática, neste caso SIDA, da forma como são negociados e aplicados os medicamentos em solo africano. Uma ficção que agora começa a ganhar forma e corpo com a chegada a África de mais uma sombra de morte.