sexta-feira, dezembro 16, 2005

Ventos da Prisa já se sentem em Queluz

Tudo começa quando a Prisa, principal grupo de comunicação social, educação, cultura e entretenimento de Espanha, entra no capital da Média Capital, adquirindo uma percentagem - 33% - bastante considerável da detentora da estação de televisão de Queluz.

A Prisa com este negócio é, actualmente, a principal accionista do Grupo Media Capital (GMC), e que lhe confere assim capacidade de manobra bastante alargada dentro do funcionamento da TVI.

Basta reparar nos títulos que a Prisa detem, principalmente em Espanha, e digo principalmente porque os “tentáculos” do grupo se espalham ao resto do mundo, para depressa nos apercebermos que a TVI teria de ser alvo de mudança, sobretudo a nível informativo.

O grupo espanhol que tem em seu poder nomes como o diário EL PAÍS, as rádios Cadena SER e a 40 Principales , o Canal Televisivo Satélite Digital e no sector da edição através da Santillana – a maior editora de livros escolares na Espanha e na América Latina, não deixa com certeza de continuar a apostar numa informação de referência seja em que país for, seja em que estação for, independentemente das linhas editoriais e registos aí instalados.

A palavra “instalados” começa a ganhar forma se pensarmos no estilo jornalístico da apresentação do Jornal da Noite da TVI, este conduzido, literalmente, por Manuela Moura Guedes. A jornalista é, sem dúvida, a “cara” da estação e da redacção do canal que muitas das vezes prefere o banal ao concreto, a justiça em directo à ponderação e reflexão dos factos, a perseguição e atribuição de acusações à sábia espera e colocação inteligente de questões, aguardando assim a resposta do entrevistado, enfim, uma série de subversões de valores que ajudam a dar credibilidade ao jornalismo e que neste canal, por vezes, deixam de existir. Muitas das vezes, a jornalista Manuela Moura Guedes incorporou este estilo, o que a meu ver contribui para a sua descredibilização junto de muitas pessoas e principalmente junto dos novos administradores.

Este último facto é visível, quando depressa se repara na súbita mas não inocente mudança de estilo da jornalista, optando pelo low profile e que estranhamente deixa aos poucos de fazer as suas, já clássicas, intervenções.

Para quem está atento, é verificável que, certamente, houve um “recado” vindo dos senhores da Prisa no sentido de existir uma correcção ao estilo que vigorava, acabando esta semana com a notícia do abandono da apresentação do Jornal da Noite por parte da jornalista, passando agora a exercer funções de subdirectora de informação do canal.

Estes ventos de mudança sopram em boa hora, uma vez que, se a estação é líder incontestável de audiências pode continuar a manter essa posição com a mudança feita de forma gradual e não muito brusca, sob pena de afectar o seu público, e aqui a parte empresarial/financeira da estação pode sair prejudicada.

Aos poucos, a educação do seu público feita com a credibilização e empatia com as caras da estação, com o passar de valores humanos dignos, com a orientação da empresa para “moldes” mais aceitáveis, não só do ponto de vista da ética jornalística como também de identificação por parte do público de figuras ditas de referência, o país só tem a ganhar, o público só tem a ganhar.


De lamentar o facto de, uma vez mais, serem os nossos “vizinhos” a soprar a mudança, mas se ela for para melhor, eu continuo a querer que eles a vão soprando.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Triste Fado

Aquilo que é, sempre, evitável aconteceu numa acção de rua em Barcelos, local escolhido neste dia – ontem – para o candidato Mário Soares chegar junto da população local e fazer passar a sua mensagem enquanto candidato ao cargo de Presidente da República.

A tentativa de agressão partiu de um homem que aparentava cerca de 50 anos e que usava uma boina verde com símbolos militares, o que leva a pensar tratar-se de um ex-combatente. Este homem começou por insultar o candidato, Mário Soares, insinuando tratar-se este de “um vigarista” e ainda dizendo “vai assaltar o Banco de Portugal para dar dinheiro aos turras para matarem portugueses", acusando assim o candidato, de apoio aos antigos movimentos independentistas africanos.

Note-se que este homem traz consigo o jornal “O Crime” debaixo do braço, onde se pode ler um artigo relativo ao assalto feito em 1967 pela Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR) à dependência da Figueira da Foz do Banco de Portugal.

Considero este acto isolado como, infelizmente, um levantar de véu da verdadeira identidade de muitos portugueses, que têm como referência publicações iguais ou na mesma linha da que o “agressor” transportava.

Considero que Mário Soares, ao não apresentar queixa deste homem, resguardando-se num lacónico comentário alusivo à possível incapacidade mental deste indivíduo, esqueceu-se que “anda na rua” em busca de votos, venham eles de que classe vierem, venham eles de que pessoa vierem, e que muito provavelmente, o voto daquele atrasado mental – palavras do candidato – lhe daria muito jeito.

Esta é uma situação complicada não só para Mário Soares como para todos os outros candidatos, que neste momento são, também, possíveis “alvos” de mentalidades distorcidas pela imprensa que temos, pela televisão, pela ausência de referências no país, e não, pela possibilidade remota de alguém com verdadeiros traços de doença mental, praticar tais actos.

É importante neste momento estar atento, não só ao acontecimento e à verdadeira notícia, como também ao que move este tipo de actos e, ao que está na génese de todo este tipo de comportamento, para melhor compreensão do fenómeno da cada vez maior falta de referências por parte da população em geral.


Penso que se houver alguma reflexão sobre aquilo em que a maioria da população "hoje" se revê, vamos ter indicadores muito significativos sobre o verdadeiro adormecimento social em que estamos mergulhados. Não querendo isto, nunca, desculpar os actos que são praticados da forma que vemos, mas sim para uma melhor compreensão do que os leva a acontecer, evitando assim a “rotulagem” social.